25 de dez. de 2012

A Saber


Me pergunto se já te disseram
- em profundidade -
quão bonita tu és:

Pois tens no rosto um sorriso marcado,
De quem consuma a vida firmemente
E os olhos que brilham como cantam os passarinhos
(os passarinhos que cantam em gratidão à beleza do dia);

Pois tens o corpo formoso,
Desejoso e responsivo ao desejo;
e as mãos sedentas, cheias de carinho
e a boca precisa, que se abre ao beijo
em ritmo inequívoco... És o amor.

Pois tens um fogo - ah! teu fogo...
(Nele me queimei e tenho as memórias ainda em brasa)
Melhor não dizê-lo.

Pois tens por fim (?) esse teu movimento
no mundo: livre, solto, corajoso...
De quem não pertence a nada nem a ninguém
senão ao próximo instante, à próxima aventura,
à próxima emoção.

És irmã do sol, amante da lua.
És um encanto. E eu te quero
Como quero as surpresas de um fim de tarde
Que se pintam nos céus tão conhecidos
mas tão diversas e de tempo incerto.

21 de dez. de 2012

Buquê


Se cada moça que eu amei fosse uma flor
Eu juntaria e faria um buquê;
Eu sentiria em cada flor
a poesia
da tristeza e da alegria
de se amar uma mulher;
E no conjunto esse buquê então seria
a tão-viva-antologia
de um trovador qualquer.

26 de nov. de 2012

Pingo.


Um pingo.       Um pingo.

                q                    
                 u
                 e
                                       e
                                       s
                                       c
                                       o
                                       r
                                       r
                                       e


à toa.

Ai, pingo a toa
vida boa

o
n
d
e
v
a
i
s
p
a
r
a
r
.
.
.
?

O Poeta


Num só momento, três amores vivos;
N'outro dia, o peito todo aberto.
Não como abraço
- como ferimento:
Rubro e pulsante
Latejante
Sangrando alto.

Assim faz o poeta:
Monta o barco, encara o mar...
E se acaso a sorte falha,
Traz consigo algo que valha:

A vela rota para sempre recordar.

22 de out. de 2012

Trovinha


Quem não vê as cores tuas
É na vida um triste ser:
Tem a luz nos olhos nua
E se furta esse prazer.

4 de out. de 2012

Segredo


Tu nem suspeitas.
Mas enquanto deitas
Na tua cama fria
Esquento meu peito
Nessa boemia
Cheia de defeito
Cheia de razão.

Meio copo cheio
Em noite de chuva
O whisky distrai
O que não alivia
E eu fico a buscar
A velha poesia
Num poema duro,
Mas de verso puro:
Puro desejar...

30 de set. de 2012

Presságio

Fernando Pessoa


"O Amor, quando se revela,
 Não se sabe revelar.
 Sabe bem olhar p'ra ela,
 Mas não lhe sabe falar.

 Quem quer dizer o que sente
 Não sabe o que há de dizer.
 Fala: parece que mente...
 Cala: parece esquecer...

 Ah, mas se ela adivinhasse,
 Se pudesse ouvir o olhar,
 E se um olhar lhe bastasse
 P'ra saber que a estão a amar!

 Mas quem sente muito, cala;
 Quem quer dizer quanto sente
 Fica sem alma nem fala,
 Fica só, inteiramente!

 Mas se isto puder contar-lhe
 O que não lhe ouso contar,
 Já não terei que falar-lhe
 Porque lhe estou a falar..."