13 de ago. de 2010

O Poeta vai ao Bar

Enquanto bebo, aqui,
Tal bebedor qualquer
Há outro em mim que bebe
Por trás da sebe
A figura de uma mulher...
Que em cada riso que me serve,
Em cada brilho que me traz,
Embriaga mais
Uma alma que ferve
Sem copo sequer.

Do que se fala

Essa gente que fala
que não mereces meu amor;
Essa gente que fala
que eu não tenho orgulho algum;
Essa gente que me explica
que é preciso que eu te pise,
que é preciso que me afaste,
que é preciso que eu procure recompor-me...

Provavelmente,
estão todos certos.

Mas,
certamente,
nenhum deles viu teu rosto como eu vejo agora.

10 de ago. de 2010

Além do Amor

canção de Vinícius de Moraes

Se tu queres que eu não chore mais,
Diz ao tempo que não passe mais.
Chora o tempo o mesmo pranto meu
- ele e eu -
tanto!
Que só para não te entristecer
Que fazer?
Canto;
Canto para que te lembres
quando eu me for...

Deixa-me chorar assim
porque eu te amo.

Dói a vida tanto em mim
porque eu te amo.

Beija até o fim
as minhas lágrimas de dor
porque eu te amo
além do amor.

6 de ago. de 2010

Barco 6820

Sozinho em alto mar...
Altíssimo mar branco!
É preciso leveza.

Há ondas dóceis e discretas
Pouco hábeis em questão de entretenimento
E um tempo arbitrário
que mal se mostra...
Brincar é preciso;
Distrair-se...

Ao lado, sereias
- uma linda, outra feia -
sorriem e entregam
suquinhos, torradas e 'pasta'
Brincar é preciso;
Inventar;
Alhear-se!

Abençoados os que têm talento
e conseguem dormir.
Eu não tenho:
eu brinco, invento
eu tento
distrair-me...

Paciência!
é preciso esperar.
esperar;
esperar...

Mas que saco esta espera!
que versos sem sorte!
que chato é voar!

Soneto Póstumo

Mário Quintana

- Boa tarde... - Boa tarde! - E a doce amiga
E eu, de novo, lado a lado vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...

E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.
Mas vem-me a idéia... e nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!

Não há remédio: é separar-nos, pois.
E as nosssas mãos amigas se estenderam:
- Até breve! - Até breve! - E, com espanto

Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles que há tanto já morreram...
E que, um dia, se quiseram tanto!

O Poeta

Vinícius de Moraes

Olhos que recolhem
Só tristeza e adeus
Para que outros olhem
Com amor os seus.

Mãos que só despejam
Silêncios e dúvidas
Para que outras sejam
Das suas, viúvas.

Lábios que desdenham
Coisas imortais
Para que outros tenham
Seu beijo demais.

Palavras que dizem
Sempre um juramento
Para que precisem
Dele, eternamente.