30 de mai. de 2010

Poema Enjoadinho*

*em paródia ao de Vinícius de Moraes

Mulher...Mulher?
Melhor não tê-las!
Mas se não as temos
Como sabê-lo?
Se não as temos
Que de consulta
Quanto barulho
Como as queremos!
Cotidiano
Diz que é normal...
Um sonho chega
Cobre a razão
Se escolhe cores
Vira um caminho
Se enfeita em tudo
Depois, que bom
Que bom, paixão
Pudor miúdo!
Resultado: fogo.
E então começa
A aporrinhação:
Amor não quer
Amor não pode
Mulher maluca
Não sabe amar.
Mulher? Mulher
Melhor não tê-las
Noites de insônia
Dor prematura
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-me!
Mulher é o demo
Melhor não tê-las
Mas se não as temos
Como sabê-las?
Como saber
Que macieza
Nos seus carinhos
Que cheiro morno
No seu descanso
Que gosto rubro
Na sua boca!
Rasgam a calma
Molham os dias
Ateiam vento
Gesto qualquer
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que é uma mulher!

22 de mai. de 2010

Poema de Boa Noite

Boa noite, pequena.
Dorme bem.
Se os acasos dessa vida cega
Impedem meu corpo de cuidar-te o sono;
fazer-te mais terno o solitário outono,
Escrevo estes versos,
me visto em poesia,
para acalentar-te nesta noite fria.

Desejo que sejam
versos bons e claros
pois de outra forma nunca soube amar.
Que possam cobrir-te de um carinho manso
mas cheguem a ti com a Presença própria
das paixões consumadas;
dos amantes consumidos;
Vivência nítida de quem se afaga
- de quem se apaga se acendendo em dois...
Que meu lirismo seja o teu descanso,
já que meu peito hoje não pode ser.
Que até tua cama queira amar-te por mim,
comovida, enfim, nessa intenção.

E que sejam mornos
- que te esquentem bem!
E eu durmo cá, com tua ausência firme,
que há tanto tempo me esquenta também...

16 de mai. de 2010

Prelúdio de Inverno

Vai chegar o frio.

Vem chegando...

Chegaremos nós, também

Não sei quando.

Ai, meu bem, que medo!
Teremos tempo?
Onde andas?
Onde ando?
Esse frio
Não será brando.


10 de mai. de 2010

Voando

O tempo voa...
Como a folha a cair
que insiste em fugir
do chão.

A vida e o tempo voam reto à imensidão...

Humanos não voam.
São pedras meramente guiadas
Por afluentes fluviais bifurcadas
ou não.

A vida e o homem, um dia se entenderão?

Mulher

(Pedro Rocha)

"mulher
sem dó nem piedade
sem pó nem vaidade
sem sorte
sem vontade
mulher
sem sonhos
sem conquistas
sem delírios
(sem pistas?)
mulher
sem saúde
sem saudade
amiúde
amizade?
mulher mulher
duma rosa, duma flor
mulher duma só cor
mulher"

5 de mai. de 2010

Quases

Ai, esses quases!
Que dão-se entre nós,
Ingênuos e a sós
Na imensidão silenciada;
São quase tudo!
São quase nada;
Ciladas de amor agudo
- de uma dor velada.

Ai, esses quases...
Quase reais,
quase sonhados,
desperdiçados no que fazes
a este amante do teu lado.

Ai, esses quases,
que quase me matam!
me levam às nuvens!
- sem dó me arrebatam.

Ai, essas frases...
que canto-te em vão;

Boca em teu ouvido
Alma em tua boca
Com versos tremidos
De tanta emoção
- a implorar sentidos
ao teu coração.

3 de mai. de 2010

A falar de estrelas

Pintada a noite e suas estrelas,
Brilha mais, uma na tela
-Vênus! dizem outros;
Digo eu o nome dela.

Como é bela! Como é bela!
Se distante, que fazer?
Eis o mais brilhante ser
Que já vi de minha cela

Oh, caísse! aqui caísse seu fulgor
Viveria, a dá-la mimos;
Morreria - de amor.

...

2 de mai. de 2010

Soneto de quarta-feira de cinzas

(Vinícius de Moraes)

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

1 de mai. de 2010

Sina

Sei ser coisa de louco,
(ou de poeta)
Mas te tendo assim
Mesmo tão pouco
Já é tão completa
Minh'alma asceta
Que não pode ser outra
- mesmo que tola,
A minha meta.

Te quero do jeito que sei querer
Numa única completude
Numa paixão que mesmo sem saber
Nos domine amiúde
E nos faça crescer
E nos traga a vida!
Ai, querida, vem ver
Que te quis o que pude
E formei um açude
De puro querer...!