18 de out. de 2010

Resumo

No princípio era a chama,
E seu show de luzes!
Plantando cruzes
Num destino frio.

Depois,
sem ar nem peito para queimar,
poupou-se às cinzas.

E então,
Blasfemando a beleza a respirar na Morte ainda,
Juntaram-se alguns
E fizeram questão de cagar sobre elas.

13 de set. de 2010

Frente e Verso (Caminho)

É macio o chão que piso
e mais leves são meus passos.
Nos meus braços, tua ausência
Pesa leve, aconchegada.
Vou seguindo.
                     Para onde?
Saberemos, saberemos.

Vem no vento uma esperança!

É macio o chão que piso;
Sob a aurora infatigável,
Levo as marcas que me deste,
Peito forte como sempre.
Vou em frente!
                      Para onde?
Nunca soube. Saberemos!

É macio o chão que piso
Por queimarem tanto as chamas!
Temperando teus encantos
Reluzindo em cada canto...!

                                                  a dor...
                                      e espalha
                         Vem o vento

É macio o chão que piso:

O chão que piso são as nossas cinzas.

13 de ago. de 2010

O Poeta vai ao Bar

Enquanto bebo, aqui,
Tal bebedor qualquer
Há outro em mim que bebe
Por trás da sebe
A figura de uma mulher...
Que em cada riso que me serve,
Em cada brilho que me traz,
Embriaga mais
Uma alma que ferve
Sem copo sequer.

Do que se fala

Essa gente que fala
que não mereces meu amor;
Essa gente que fala
que eu não tenho orgulho algum;
Essa gente que me explica
que é preciso que eu te pise,
que é preciso que me afaste,
que é preciso que eu procure recompor-me...

Provavelmente,
estão todos certos.

Mas,
certamente,
nenhum deles viu teu rosto como eu vejo agora.

10 de ago. de 2010

Além do Amor

canção de Vinícius de Moraes

Se tu queres que eu não chore mais,
Diz ao tempo que não passe mais.
Chora o tempo o mesmo pranto meu
- ele e eu -
tanto!
Que só para não te entristecer
Que fazer?
Canto;
Canto para que te lembres
quando eu me for...

Deixa-me chorar assim
porque eu te amo.

Dói a vida tanto em mim
porque eu te amo.

Beija até o fim
as minhas lágrimas de dor
porque eu te amo
além do amor.

6 de ago. de 2010

Barco 6820

Sozinho em alto mar...
Altíssimo mar branco!
É preciso leveza.

Há ondas dóceis e discretas
Pouco hábeis em questão de entretenimento
E um tempo arbitrário
que mal se mostra...
Brincar é preciso;
Distrair-se...

Ao lado, sereias
- uma linda, outra feia -
sorriem e entregam
suquinhos, torradas e 'pasta'
Brincar é preciso;
Inventar;
Alhear-se!

Abençoados os que têm talento
e conseguem dormir.
Eu não tenho:
eu brinco, invento
eu tento
distrair-me...

Paciência!
é preciso esperar.
esperar;
esperar...

Mas que saco esta espera!
que versos sem sorte!
que chato é voar!

Soneto Póstumo

Mário Quintana

- Boa tarde... - Boa tarde! - E a doce amiga
E eu, de novo, lado a lado vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...

E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.
Mas vem-me a idéia... e nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!

Não há remédio: é separar-nos, pois.
E as nosssas mãos amigas se estenderam:
- Até breve! - Até breve! - E, com espanto

Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles que há tanto já morreram...
E que, um dia, se quiseram tanto!

O Poeta

Vinícius de Moraes

Olhos que recolhem
Só tristeza e adeus
Para que outros olhem
Com amor os seus.

Mãos que só despejam
Silêncios e dúvidas
Para que outras sejam
Das suas, viúvas.

Lábios que desdenham
Coisas imortais
Para que outros tenham
Seu beijo demais.

Palavras que dizem
Sempre um juramento
Para que precisem
Dele, eternamente.

7 de jul. de 2010

Sorriso

Deitar-se de todo
Na sombra suave
Da árvore leve...
...................tão leve!

Deitar-se na terra
Como fosse o colo
Da gentil namorada
De olhar suspenso, brilhando de amor!

Aceitar a carícia
Natural e pura
Das folhas que caem,
Do céu exibido,
Da vida vaidosa que canta tranquila...

Que mais uma alma
..........precisa sonhar?

6 de jul. de 2010

Pequeno Poema Didático

(Mário Quintana)

O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga a mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.

Todos os poemas são o mesmo poema,
Todo porre é o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são horas extremas!

2 de jul. de 2010

Pouco Sei

Pouco sei do que é possível
Nos possíveis que há em ti.

Não conheço a correnteza
Nem quão fundas são águas
Quanto pode haver de sonho,
Quanto pode haver de mágoa...

Nada sei dos teus carinhos
- e os espinhos, mal suspeito!
E estes versos que te moldo,
Pouco sei dos seus efeitos.

Sei apenas dos teus olhos;
Do teu beijo;
Do teu riso e do teu ar distinto.

Mas me encanto na maneira que isso traz
Um desejo de saber um pouco mais...




25 de jun. de 2010

Prece


Queria que meu pranto lavasse o mundo,
Mas não lava nem minhas mãos.

11 de jun. de 2010

Longe


A saudade já se expande
E me traz para essas linhas...
Sendo ela assim tão grande
Poderia ser só minha?

30 de mai. de 2010

Poema Enjoadinho*

*em paródia ao de Vinícius de Moraes

Mulher...Mulher?
Melhor não tê-las!
Mas se não as temos
Como sabê-lo?
Se não as temos
Que de consulta
Quanto barulho
Como as queremos!
Cotidiano
Diz que é normal...
Um sonho chega
Cobre a razão
Se escolhe cores
Vira um caminho
Se enfeita em tudo
Depois, que bom
Que bom, paixão
Pudor miúdo!
Resultado: fogo.
E então começa
A aporrinhação:
Amor não quer
Amor não pode
Mulher maluca
Não sabe amar.
Mulher? Mulher
Melhor não tê-las
Noites de insônia
Dor prematura
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-me!
Mulher é o demo
Melhor não tê-las
Mas se não as temos
Como sabê-las?
Como saber
Que macieza
Nos seus carinhos
Que cheiro morno
No seu descanso
Que gosto rubro
Na sua boca!
Rasgam a calma
Molham os dias
Ateiam vento
Gesto qualquer
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que é uma mulher!

22 de mai. de 2010

Poema de Boa Noite

Boa noite, pequena.
Dorme bem.
Se os acasos dessa vida cega
Impedem meu corpo de cuidar-te o sono;
fazer-te mais terno o solitário outono,
Escrevo estes versos,
me visto em poesia,
para acalentar-te nesta noite fria.

Desejo que sejam
versos bons e claros
pois de outra forma nunca soube amar.
Que possam cobrir-te de um carinho manso
mas cheguem a ti com a Presença própria
das paixões consumadas;
dos amantes consumidos;
Vivência nítida de quem se afaga
- de quem se apaga se acendendo em dois...
Que meu lirismo seja o teu descanso,
já que meu peito hoje não pode ser.
Que até tua cama queira amar-te por mim,
comovida, enfim, nessa intenção.

E que sejam mornos
- que te esquentem bem!
E eu durmo cá, com tua ausência firme,
que há tanto tempo me esquenta também...

16 de mai. de 2010

Prelúdio de Inverno

Vai chegar o frio.

Vem chegando...

Chegaremos nós, também

Não sei quando.

Ai, meu bem, que medo!
Teremos tempo?
Onde andas?
Onde ando?
Esse frio
Não será brando.


10 de mai. de 2010

Voando

O tempo voa...
Como a folha a cair
que insiste em fugir
do chão.

A vida e o tempo voam reto à imensidão...

Humanos não voam.
São pedras meramente guiadas
Por afluentes fluviais bifurcadas
ou não.

A vida e o homem, um dia se entenderão?

Mulher

(Pedro Rocha)

"mulher
sem dó nem piedade
sem pó nem vaidade
sem sorte
sem vontade
mulher
sem sonhos
sem conquistas
sem delírios
(sem pistas?)
mulher
sem saúde
sem saudade
amiúde
amizade?
mulher mulher
duma rosa, duma flor
mulher duma só cor
mulher"

5 de mai. de 2010

Quases

Ai, esses quases!
Que dão-se entre nós,
Ingênuos e a sós
Na imensidão silenciada;
São quase tudo!
São quase nada;
Ciladas de amor agudo
- de uma dor velada.

Ai, esses quases...
Quase reais,
quase sonhados,
desperdiçados no que fazes
a este amante do teu lado.

Ai, esses quases,
que quase me matam!
me levam às nuvens!
- sem dó me arrebatam.

Ai, essas frases...
que canto-te em vão;

Boca em teu ouvido
Alma em tua boca
Com versos tremidos
De tanta emoção
- a implorar sentidos
ao teu coração.

3 de mai. de 2010

A falar de estrelas

Pintada a noite e suas estrelas,
Brilha mais, uma na tela
-Vênus! dizem outros;
Digo eu o nome dela.

Como é bela! Como é bela!
Se distante, que fazer?
Eis o mais brilhante ser
Que já vi de minha cela

Oh, caísse! aqui caísse seu fulgor
Viveria, a dá-la mimos;
Morreria - de amor.

...

2 de mai. de 2010

Soneto de quarta-feira de cinzas

(Vinícius de Moraes)

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

1 de mai. de 2010

Sina

Sei ser coisa de louco,
(ou de poeta)
Mas te tendo assim
Mesmo tão pouco
Já é tão completa
Minh'alma asceta
Que não pode ser outra
- mesmo que tola,
A minha meta.

Te quero do jeito que sei querer
Numa única completude
Numa paixão que mesmo sem saber
Nos domine amiúde
E nos faça crescer
E nos traga a vida!
Ai, querida, vem ver
Que te quis o que pude
E formei um açude
De puro querer...!

27 de abr. de 2010

Soneto de quem se dá


"A vida só se dá pra quem se deu".
Já disse o poetinha vagabundo
Que em seu jeito de boêmio do mundo
Seu segredo de viver concedeu.

É meta: fazer tudo mais fecundo
Qualquer que seja a cor do que nasceu.
Quem vive só feliz já se morreu!
Não sabe ver da vida seu profundo.

Não é questão de ser alegre o choro:
Tudo que chora mais gentil retorna
E nada iguala tal contentamento.

Mesmo que seja solitário o coro,
A minha morte, não a quero morna:
Morro de amores ou morro no intento!

24 de abr. de 2010

Chora

Chora, peito... chora!
Antes que venha a aurora
E diga ser hora
de ir embora...
de ir além...

Chora que o céu é amigo!
E ouve comigo,
Teu pranto em castigo
de não transbordar...

Como n'outrora!
- chora...
Não muito demora,
p'reu molhar estas letras contigo!

O amor, a poesia, as viagens

(Manuel Bandeira)

Atirei um céu aberto
Na janela do meu bem:
Caí na Lapa - um deserto...
- Pará, capital Belém!...

21 de abr. de 2010

.

Tu me vens.

Mansa tarde,
Noites duras,
Tu me vens:
Não há cura.

Vens de leve,
mas precisa.
Nessas ondas,
nessa brisa...
Num balé!
Nas marés
das paredes
e dos mares

Tu me vens
por me faltares.
Já faltam ares
mas 'inda vens!
de mil lugares
- de mim também.

Vens de mim especialmente
És um sonho meu, amável
Ai, paixão imensurável!
Que mal cabe em quem a sente.

Por isso vens
de tudo em volta
pois tudo é teu, honestamente.

Soneto das Luas



"São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida."
(Vinícius de Moraes)


Como ante um amplo luar, de uma luz
Dessas que a todos os vivos seduz,
Comovo-me de saber que tu existes,
- Ainda mais bela do que eu supus.

Pois mesmo a luzir sobre as coisas tristes
Mantém a lua seu encanto em riste
E sem aviso a razão se reduz
À sombra vil de um efêmero chiste...

E me espanta ver, nas duas presenças,
Grandeza tanta, em diminuta imagem;
Firmeza tanta, em velada sentença!

De sangrar, de longe, ante tal miragem;
Contemplar, tal monge, a mais pura ausência
Na eterna noite de eterna viagem.

Soneto do Amor Total

(Vinícius de Moraes)

"Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."

19 de abr. de 2010

Poema em tom menor (Convite para amar)


Eu queria mostrar-te
A arte que tem
Em gostar de alguém
E fazer mesmo parte.

Mostrar-te, querida,
Da vida que pulsa!
E que em tua repulsa,
Só vês a saída.

Queria que vistes
A triste verdade:
Quem ama a saudade,
Não ama o que existe...

E que vistes em mim,
Assim, inocente
Que o que não se consente
Nem sempre é ruim...

Quero dar-te outro rumo,
Rumo ao vivo amor!
E se pesar-te a dor,
Teu pesar assumo.

Quero abrir-te um caminho
De carinho apenas
Onde qualquer pena
Só doa baixinho.

Que o meu canto onírico
Respire com sorte
E não mais te confortes
Sem algo de lírico

Dar-me pra ti, pequena...
Condena, se capaz!
Mas isso não se faz
Com alma tão serena

Que em honesta cena
Só te pede mais.

15 de abr. de 2010

Soneto à Complexa Matemática

A estes números, loucos e abstratos,
Devoto toda a mais pura repulsa!
Ira que é tão singular e avulsa...
Os cruéis e antigos mentais maltratos!

Amigos, guardai todos meus retratos!
Hei de morrer na luta matemática!
Fácil seriam reações adiabáticas...
...qualquer geometria e seus aparatos!

Desisto, aqui, de qualquer teimosia.
Muito já vai triste por água abaixo...
Medicina, Direito, Economia...

Aceito, pobre, este fino esculaxo.
Meu talento reserva-se à poesia!
Polinômios, divisões... ao riacho!


2007

13 de abr. de 2010

Bom dia

Não me espanta essa tua voz gostosa
Que em meus ouvidos já brincou deveras

Não me espanta essa alegria fresca
Pois nela vi o teu primeiro encanto

O que me vem, e novamente espanta,
É a alegria tanta, tanta, tanta!
Que me dá de acordar assim
contigo a me ligar...
Feito pássaro que canta
e vem de longe me avisar!

Levanto-me sem custo!
Talvez seja até injusto
chamar isso de acordar...

12 de abr. de 2010

Beco

Tentei me esquivar
por tantas desfugas...
Agora já foi!
És mais uma ruga.

11 de abr. de 2010

Soneto da Benção

Vez ou outra não bem sei o que sinto
De modo sucinto - penso que é dor.
A cabeça me dói pelo absinto;
Todas as outras são dores de amor.

Amores que amo, amores que minto,
Esses que finjo só pelo calor...
Outros tão longe que apenas pressinto
Outros só sonhos, que nem têm sabor.

Ah, meus amores! Se não me doêsseis
Não havia poemas como esses!
Vossa bênção maldita grita e vive,

E faz-me vivo enquanto se vigora.
Não tenho dúvidas que sou agora
Bem pouco mais que os amores que tive!

Antiga Surpresa

Meu amor, para contigo,
É mais antigo que esta carta,
Só hoje escrita, mas tão lida,
Tão relida no meu peito...

E é vero, de um jeito
Que não entenderias, de singelo.
Mas é vero, te garanto! e belo!

Por isso apelo, novamente,
Em versinhos decadentes,
Uma chance.
Um romance? ah! quem dera...
Mas primavera ainda tarda
Quem sabe arda, até lá
Algo que valha essa espera
De um romance se sonhar!

Se te revelo, de repente,
Meu amor, talvez demente,
Tem calma.
Minha alma sempre soube
Sempre coube - terno em mim,
Coisa assim... Sempre existiu.
O que há de novo, te confesso,
És só tu. E em excesso!

Ciclos

Ao cansar do sol,
Nasce a melancolia,
poente marrom...

Ao findar das folhas,
Cai o nada - o frio, limpeza.

A um sinal de luz,
Volta a brilhar o que era, a doce primavera.

E quando não mais se espera,
Renasce o sol alegre e quente d'um verão!

Vê então:
A vida não é feita de uma só estação.

Inconstância

"Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol:
Ambos existem, cada um como é." (Alberto Caeiro)


Bonito seria,
se todos os dias
fizessem-se noites,
como esta de verão.
Mas ontem mesmo havia chuva
E eu realmente não faço questão...

Pois se há beleza no que vive
E o que vive há de sentir,
Ser constante é ilusão;
Auto-fraude e perdição.

10 de abr. de 2010

Horizonte

Quando chove muito
E se vê o mar,
O horizonte cede:
Concede ao céu a sua linha
E não se sabe bem
de quem é quem...

Sabes, querida?
És meu único horizonte
E por ti é que mergulho
neste mar de espinhos.
Mas em minh'alma
E em minha vista
Chove tanto!
Que já não sei se canto
Mais por ti
Ou pelo caminho
do (a)mar...

Conceitual


Paixão,
qualquer coisa que queima,
qualquer coisa que arde;
Amor,
um singelo poema,
um gentil fim de tarde




.

Poema Simples

Tenho-te, e tudo é bom.

Sei do que existe,
Mas que me importa?
Por trás dessa porta
Há um mundo flácido e sem tom;
Há vida efêmera e sem vida.
Há uma poltrona carcomida
E uma orquídea marrom.

É mergulhado em nosso meio,
No abrigo quente do teu seio,
Que sei que tenho-te, e tudo é bom.

E não há nada
mais
- nem som.

A vida é isso,
A vida é nossa,
e é bom!
é bom.
é bom...

Consolação

A vida não pode ser fria
- nem vazia! nem dormente.
Há de haver romance...
(há de haver poesia!)

Há de haver a chama dos que vivem
Ou talvez a chama do que vive só.
Ou ao menos vida - simplesmente,
Em chama extinta, desmanchada em pó!

Mas a vida nunca é fria
- não completamente

Porque mesmo se vazia,
faz-se luz de sua agonia
e de luz se faz poesia.

E a poesia esquenta a vida
- eternamente.

Quem ama inventa

"Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
E então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!"

Mário Quintana